A explicação mais aceita para a expressão "para inglês ver" é a que no tempo do império, as autoridades brasileiras fingindo que cediam às pressões da Inglaterra, tomaram medidas de mentirinha para combater o tráfico de escravos - combate que não ocorreu, era encenação para inglês ver. De lá para cá, muito tempo se passou, mas a prática do faz de conta não foi abolida. A área ambiental não fica fora das aparências. Mais do que nunca, todos, indistintamente, desejam ser reconhecidos como cuidadores e preocupados com o meio ambiente. Todos, indistintamente, se apavoram com imagens em que o rastro deixado são toneladas de lixo espalhadas. Por outro lado, os que se apavoram com esta atitude, muitas vezes, são os mesmos que não separam os resíduos que geram. Se pessoas gostam do reconhecimento, empresas e poder público, muito mais.
O marketing ambiental é um poderoso recurso para uma imagem positiva. A menor atitude já é suficiente para a autoproclamação de sustentabilidade, mesmo limitada a um conjunto de lixeiras coloridas. Na maioria das vezes são decorativas. Ao serem inspecionadas, há mistura de todos os tipos de resíduos. Assim é na maioria dos locais e eventos, do carnaval de Salvador a Santa Maria. Propaganda não falta. São cartazes; frases de efeito com palavras da moda; verde por todos os lados e muitas plantas. Ah! e lixeiras coloridas. Basta uma voltinha e uma olhadinha nos coletores e contêineres que a sustentabilidade cai por terra. Ocorre que poucos farão isso, a maioria se satisfaz com o que vê. Dia desses, fui à farmácia de uma grande rede que se intitula preocupada com as questões ambientais. Perguntei onde eu poderia descartar um lenço de papel usado e a embalagem plástica, era o último.
A funcionária prontamente me levou até a única lixeira próxima ao caixa. Questionei, pois o lenço é rejeito e a embalagem, reciclável. Ela prontamente me disse que a separação era feita depois. Como assim? Pensei. É totalmente ilógica a separação posterior, além disso representa retrabalho. A separação deve ser feita no momento do descarte, ou seja, na origem. Resposta semelhante eu recebi, alguns meses atrás, quando busquei informações sobre a coleta seletiva realizada na maior feira da indústria e comércio da cidade. "Temos catadores que fazem a separação nos contêineres nos quais são descartados os resíduos retirados das várias áreas da feira". Esta estratégia não dignifica quem tira o seu sustento deste trabalho. Representa também desperdício, pois a contaminação e a sujidade, muitas vezes, inviabilizam o envio do material à reciclagem. Os exemplos são inúmeros e muito semelhantes. Coleta seletiva, gerenciamento de resíduos, gestão ambiental, sustentabilidade é bem mais do que uma maquiagem verde. Requer conhecimento, pró-atividade e planejamento integrado, caso contrário, não passam de ações de brincadeirinha para inglês ver.